Literatura

Literatura - Prof. Claudionor Reis

Resumo das obras Literárias Obrigatórias da UFS 2011:

OBRAS INDICADAS
1ª SÉRIE

A Hora da Luta – Álvaro Cardoso
Assassinato na Floresta – Paulo Rangel
Os Bruzundangas – Lima Barreto


2ª SÉRIE
Marília de Dirceu – Tomás Antônio Gonzaga
Cartas Chilenas – Tomás Antônio Gonzaga
Olhinhos de Gato – Cecília Meireles
Mensagem – Fernando Pessoa

3ª SÉRIE
Capitães da Areia – Jorge Amado
A Estrela Sobe – Marques Rebelo
A Procura de Jane – Gizelda Morais
Feijão de Cego – Vladimir Souza Carvalho

Primavera Literária 2010 (arquivo de pdf compactado) - 66 MB






  
Com carinho,
Claudionor Reis





Resumo das Obras Literárias 2010



1ª e 2ª Séries - Resumo Baixar (versão em pdf para impressão)



 A Hora da Luta
A juventude, engajada na contracultura dos anos 60, buscava, através deste conjunto de idéias e comportamentos, cair fora do sistema”
CARLOS PEREIRA
A hora da Luta, de autoria de Álvaro Cardoso, é uma obra que retrata a efervescência cultural e p0lítica vivenciada pelos jovens estudantes brasileiros, no início dos anos 60. Nessa década, a sociedade brasileira é profundamente marcada pelos ideais revolucionários advindos da contracultura.
Nesse contexto, despontava o movimento estudantil, de caráter fortemente libertário, que com suas idéias de transformação social, colocava em xeque, frontalmente, alguns valores centrais da cultura ocidental. É o período da Nova Esquerda, do movimento hippie, do poder jovem e dos grandes confrontos dos estudantes com o regime militar brasileiro, instalado no país após o golpe de 64.
A obra em tela apresenta um tempo predominantemente cronológico, adotando um foco narrativo em primeira pessoa. O discurso utilizado é predominantemente direto, com o uso de termos e expressões próprias do coloquial. O personagem principal e também narrador é Roberto, conhecido como Beto. Ele conduz a narrativa, desde o início, com a sua chegada à capital paulistana, até o desfecho, quando reata a relação amorosa com Lúcia Helena.
A narrativa inicia com a desilusão de Beto, gerada pela falta de perspectiva ofertada pela cidade de Americana no interior paulista. Tal desilusão, leva-o a mudar para a capital onde se depara com os dilemas do cotidiano de uma cidade grande. Inicialmente, hospeda-se na Academia Atlas onde trabalhava e morava o seu melhor amigo Batata. Começa a sua vida profissional no Banco de Minas Gerais, sem atrapalhar o curso secundário que freqüentava no Colégio Caetano de Campos. Influenciado pelas idéias revolucionárias do seu colega Valentim, entra em contato, por meio do movimento estudantil, com a efervescente atmosfera política do início dos anos 60. Contudo, o narrador vive esse contexto de forma contraditória, visto que está preso ao emprego no banco, ao namoro com Lúcia Helena e às raízes interioranas.
Em suma, o romance tem como pano de fundo o cenário histórico da década de 60, abordando os dramas e os conflitos existenciais de um jovem do interior que, ao fazer a opção por viver na capital, se envolve num emaranhado de complexidades típicas de uma grande cidade.

Resumo elaborado por:
Adélia dos Santos Souza Lima
Professora de Literatura do Colégio Estadual John Kennedy
Maria Zelita Batista Brito
Professora de História da Rede Pública Estadual de Ensino e Diretora do DASE/SEED





 Assassinato na Floresta

“Raimunda, brasileira típica, vítima do berço à sepultura.”
Paulo Rangel
   Assassinato na floresta apresenta uma intrigante narrativa, nos moldes do gênero romance policial. Há uma morte aparentemente natural: uma picada de cobra teria levado a seringueira Raimunda da Silva à morte, até que o repórter policial Ivo Cotoxó, por reprimenda de seu chefe no jornal paulista Tribuna da Pátria, recebe a incumbência de fazer uma matéria sobre a morte da seringueira na Amazônia.
   O protagonista do romance fica extremamente aborrecido por ser tratado como um “foca”, jornalista principiante que se ocupa com matérias de pouca relevância. Entretanto, como acontece nos romances de mistério, Ivo Cotoxó age com perícia, colhe informações e, a cada descoberta, vai reconstituindo os fatos que realmente causaram a morte de Raimunda da Silva. Ela era uma seringueira com espírito de liderança, que organizava os habitantes da Floresta Amazônica numa cooperativa cujo sucesso incomodava grandes proprietários, políticos donos de madeireiras, ricaços do estrangeiro cuja ambição capitalista não poderia ser interrompida por pobres trabalhadores.
   O autor, Paulo Rangel, cria um desfecho surpreendente para a narrativa, bem como leva o leitor a pensar criticamente sobre a ilegalidade e a impunidade em que vivem os donos do poder: a picada da cobra fora um álibi da fúria capitalista para ocultar o Assassinato na floresta que vitimou a seringueira Raimunda Correia.
Resumo elaborado por:


Sidiney Meneses Jerônimo


Professor de Língua Portuguesa do Colégio Estadual D. Luciano José Cabral Duarte e do Programa Pré-Universitário/SEED





Os Bruzundangas

A arte de furtar diz: ‘os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões’.”
Lima Barreto
   Os Bruzundangas, publicado em 1923, obra póstuma de Lima Barreto, uma coletânea de crônicas, na qual o autor com a percepção aguda e crítica, não deixa escapar nada. Com malandrice carioca e estilo ágil, próximo da caricatura e zombaria, o autor é mestre da ficção de escárnio. Satiriza uma fictícia nação onde ele mesmo teria residido. Ao lê-lo, tem-se a impressão de que o escritor não se fez arauto de seu tempo; o Brasil é que patinou nos descaminhos de si.
   Os capítulos da narrativa enfocam, entre outros temas, a diplomacia, a Constituição, as propinas, os políticos e as eleições em Bruzundanga. Ademais, critica os privilégios da nobreza, o poder das oligarquias rurais, a futilidade das sanguessugas do erário e as mazelas sociais existentes em um país real do início do século XX. Nas raízes do imaginário país, grassam oportunistas, apadrinhados, retrógrados e escravocratas.
Sobre os usos e costumes das autoridades, escreve que não atendem às necessidades do povo, tampouco lhe resolvem os problemas. Cuidam de enriquecer e firmar a situação dos descendentes e colaterais. Diz: “não há homem influente que não tenha parentes e amigos ocupando cargos de Estado; não há doutores da lei e deputados que não se considerem no direito de deixar aos filhos, netos, sobrinhos e primos gordas pensões pagas pelo Tesouro da República”. Enquanto isto, a população é escorchada de impostos e vexações fiscais; vive sugada para que parvos, com títulos altissonantes disso ou daquilo, gozem vencimentos, subsídios, aposentadorias e rendimentos que vêm de outras origens.
    Muito mais é Bruzundangas em seus cânones sócio-políticos, religiosos e culturais, e no atraso visceral – conforme se lê no prefácio – de uma nata enquistada no canibalismo simbólico da "Arte de Furtar": os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões.

Resumo elaborado por:


Jeusinete de Paula Oliveira


Professora de Inglês do Colégio Estadual Petrônio Portela e de Literatura do Programa Pré-Universitário/SEED






Marília de Dirceu
 
"Eu sou gentil Marília, eu sou seu cativo;
porém não me venceu a mão armada
De ferro, e de furor
Uma alma sobre todas elevadas
Não cede a outra força que não seja
A tenra mão de amor”.
Tomás Antônio Gonzaga
   Felicidade, amor, lealdade, prisão e degredo. Esses são elementos que compõem a obra Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga.
   A obra Marília de Dirceu apresenta a contenção e o equilíbrio com a utilização de todos os lugares comuns do Arcadismo: um pastor, uma pastora, o campo, a serenidade da paisagem. O emocionalismo pré-romântico na expressão pungente da crise amorosa e, posteriormente, a prisão da crise emocional.
   Suas liras constituem a obra poética mais importante do século XVIII brasileiro e uma das mais expressivas do Neoclassicismo em língua portuguesa.
   Incorporando muito de sua experiência pessoal, antes e depois da prisão, Gonzaga consegue quebrar em grande parte a rigidez dos princípios árcades. Sua poesia é mais emotiva e espontânea. Sua Marília, em vez de se apresentar como uma mulher irreal, como a Nise de Cláudio Manuel da Costa, mostra-se mais humana, próxima do real.
   É interessante atentar para alguns aspectos da obra de Gonzaga. Embora Marília, seja quase sempre um vocativo e a obra tenha a estrutura de um diálogo, na verdade, trata-se de um monólogo – só Gonzaga fala, raciocina. Marília é apenas um pretexto. O centro do poema é o próprio Gonzaga.
   Outro aspecto curioso é o fato de o poeta cair constantemente em contradição, ora assume a postura de pastor de ovelhas, ora assume a condição de burguês.
   A obra Marília de Dirceu é dividida em duas partes. Há, no entanto uma terceira parte cuja autenticidade é contestada.
   A primeira parte contém registros da época anterior à prisão de Gonzaga. Predominam as composições convencionais: o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília mostra-se o poeta cheio de esperanças, fazendo projetos conjugais, defendendo o ideal de vida burguês. De um modo geral, predomina o convencionalismo arcádico.
   A segunda, todavia, revela uma nauseante reviravolta. O meio saudável e campestre é substituído pela angústia provocada pela separação do protagonista de sua eterna amada, Marília.
   Na terceira parte, as liras recuperam a leveza inicial e são dedicadas não apenas a Marília, mas também a outras pastoras.

Resumo elaborado por:


Rosa Maria Oliveira Barreto


Professora de Literatura do Colégio Estadual José Rollemberg Leite e do Pré-Universitário/SEED




  Cartas Chilenas

O povo, Doroteu, é semelhante aos corvos e aos abutres que se ajuntam nos ermos onde fede a carne podre”.
Tomás Antônio Gonzaga
  
Cartas Chilenas, uma das sátiras mais curiosas e importantes da nossa história literária, são poemas escritos em linguagem agressiva, versos decassílabos brancos, isto é, sem rimas como uma métrica parecida com a da epopéia que circularam em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira, e são atribuídas a Tomas Antônio Gonzaga.

   São treze cartas escritas por Critílio (pseudônimo do autor que por muito tempo ficou obscuro), retratam os desmandos, atos de corrupção, nepotismo, abuso de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais do Fanfarrão Minésio (governador Luis Cunha Meneses) no governo do Chile (a cidade de Vila Rica), endereçadas ao amigo Doroteu.

                        “Pois é, prezado Amigo, muito fraco
                                     Aprenda a ter o valor de nosso chefe,
                                     Que à janela se pôs, e a tudo assiste,
                                     Sem voltar o semblante para a ilharga;
                                     E pode ser Amigo, que não tenha
                                     Esforço para ver correr o sangue,
                                     Que em defesa do trono se derrama”.

   Trilhando os caminhos abertos por Gregório de Matos, Gonzaga dá continuidade à irregular tradição satírica de nossa literatura, ao mesmo tempo oferece um rico painel social e político daqueles dois anos que precederam a Inconfidência Mineira.
Embora a crítica do poema tenha como alvo o governador e não o colonialismo português, fica clara a fragilidade da estrutura política colonial e os abusos de poder praticados pela coroa.


Resumo elaborado por:


Rosa Maria Oliveira Barreto


Professora de Literatura do Colégio Estadual José Rollemberg Leite e do Pré-Universitário/SEED





  Mensagens

 “Deus quer, o homem sonha, e a obra nasce”.
Fernando Pessoa

   Fernando Pessoa é o mais representativo poeta do século XX em Língua Portuguesa. Seu valor é comparado ao de Camões. Figura enigmática em que se tornou, movimenta grande parte dos estudos sobre a sua vida e obra, além de ser o centro irradiador da heteronímia.
 Sua produção literária foi marcada também pela poesia musical e subjetiva, voltada essencialmente para a metalinguagem e os temas relativos a Portugal, como o sebastianismo presente na principal obra de Pessoa – ele mesmo. Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses, único publicado em vida.
Um livro simbólico, dividido em três partes com uma nota preliminar antecedendo-as. (todas, incluindo a nota preliminar, possuem epigrafo em latim). Composto por 44 poemas mais ou menos curtos, que constituem uma epopéia fragmentada, sem unidade narrativa. Nele, imagens herméticas, de fundo esotérico mobilizam-se para expressão do nacionalismo místico do autor, além de conter uma visão messiânica sobre o destino de Portugal. Sua linguagem oscila entre o equilíbrio clássico e a sinuosidade barroca.
     “Bellum sine bello” – guerra sem guerrear
   A primeira parte – Brasão remota às origens de Portugal e a definição da nacionalidade do país. As qualidades e as relações numéricas, constantes no Brasão, têm provável significado esotérico, tradicionalmente os brasões portugueses, geralmente representados por um dragão lado a lado, foi substituído pela figura mitológica do Grigo (cabeça de águia, partes de leão), simbolizando a oposição dos contrários.
                 “Passesio Maris” – posse do mar
   A segunda parte - Mar Português refere-se às grandes viagens e a expansão marítima. Formado por 12 poemas, apresenta as principais etapas da expansão ultramarina que levou Portugal a ocupar um lugar de destaque no mundo durante o século XV e XVI.
                          “Pax in Excelsis” – paz nas alturas
   A terceira parte - O Encoberta fixa-se na figura de D. Sebastião e abrange desde o seu desaparecimento, até a fase de declínio da nação.
   Fernando Pessoa expresso nesta obra forte sentimento nacionalista, através de uma volta ao passado, numa tentativa de reerguer o Império Português.

Resumo elaborado por:


Elza Ferreira


Doutoranda em Educação pela UFS e Professora de Língua Portuguesa do IFS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe





     Olhinhos de Gato
 




“Os mistérios da vida  e da morte alimentam os desejos de permanência e de imortalidade”.
Cecília Meireles

   Olhinhos de Gato de Cecília Meireles é  um pequeno livro  de memórias em que predomina uma narrativa sobre a infância. Nele a autora explora uma linguagem sofisticada. A repetiçao de sons cria um clima de abandono e solidao; a adjetivação abundante, escolhida com uma sensibilidade, ajuda a criar um clima subjetivo e poético; o uso abundante das reticências que abre espaço para divagação e a memória, os parênteses que inserem um outro tempo no diálogo com o leitor; a presença das onomatopéias que ecoam os ruídos de outras épocas.
   Quando criança, Olhinhos de Gato era tratada com mimos pela avô, Boquinha de Doce, que lhe fazia lindos vestidos com babados, fitas, rendas e ponto russo. A ama, Dentinho de Arroz, era silenciosa, olhos negros, levemente vesgos, névoa tênue de mágoas, no olhar. Com ela, Olhinhos de Gato subia a ladeira suspensa no ombro, num passeio por cima do vento, perto das nuvens e das estrelas.
   Havia ainda as presenças carinhosas de Maria Maruca e Có, agregados da familia, de tia totinha, que Olhinhos de Gato considerava sábia porque tocava piano e fazia pão-de-ló.
   Olhinhos de Gato tem alma feminina; cheiros, sons e sabores da infância. Povoada de lembranças, de solidão e do sentimento sempre presente da morte.
   Pleno de nostalgia, é um livro para ser saboreado devagar, lendo e relendo, apreciando toda sua musicalidade e relembrando as emoções da própria infância, olhando um outro jeito de viver a vida.
   A narrativa, com seus treze capítulos, contemplam dois momentos marcantes na vida de Olhinhos de Gato: O primeiro, com a morte da mãe, o beijo no rosto duro e frio; o segundo, com outro tipo de morte, o da infância, quando seus lindos cachos são cortados, e ela os traz para casa e os entrega à avó, recebendo de presente uma cadeirinha de vime.
   A autora procura desvendar sua infância em momentos de contemplação intimista e aqui e ali algum fato concreto, como as músicas que a ama cantarolava, os carroceiros, vendedores de mercadorias, as vizinhas que conversavam pelas varandas, as brincadeiras de roda tão ao gosto das crianças de antigamente. Mas o que fica mesmo são as observações reflexivas sobre vida, morte e sensações. Os personagens não são nomeados, mas simbolizados com outros nomes.

Resumo elaborado por:


Rosa Maria Oliveira Barreto


Professora de Literatura do Colégio Estadual José Rollemberg Leite e do Programa Pré-Universitári0/SEED